agora mesmo, antes de abrir o bloco de notas do celular, estava procurando na internet uma entrevista do alejandro zambra, autor de poeta chileno. era uma entrevista recente. zambra comentava sobre o filho de seis anos, de como não há outro assunto senão o filho, da alegria de ver o menino explicar a ele que no méxico (zambra vive no méxico, ao que parece) abacate é designado por outra palavra, diferente da usada no chile, da alegria de vê-la, a criança, apaixonada pelo futebol do colo-colo. acontece que a entrevista não está mais disponível gratuitamente. a internet é isso, um terrível pedágio.
gostei muito de ler o zambra. ele foi uma companhia maravilhosa nas últimas duas semanas. lírio dormia no meu colo e eu, em vez de caçar confusão em algum grupo do zap ou perder mais uma hora divulgando meu disco, mergulhava no seu romance. poeta chileno possui várias histórias, mas, resumindo, é sobre dois poetas, um muito jovem e outro, aparentemente, maduro, a relação entre os dois. absorvido pela história, há longas passagens, trechos delicados sobre paternidade, em um momento de pausa do lírio e do livro, vi o meu amigo peri pane compartilhando um trecho da publicação mais recente de zambra, livro infantil. comentei o post. eis que ele me responde que comprou literatura infantil para me dar de presente de aniversário, dia 15, na festa-show que farei na casa odette. mas peri não resistiu. começou a ler o meu presente e avisou que talvez entregasse o livro com anotações nas margens das páginas. sorte a minha, pode ser que dessas anotações surjam ainda outras canções em parceria.
peri e eu temos essas sintonias. além dele e do lírio terem nascido no mesmo dia, o 23 de abril, às vezes lemos o mesmo livro sem combinar, sem saber. com nossas parcerias funciona assim também. já compusemos até a partir de melodia capturada em sonho, uma música inédita, aguardem. “as flores são”, uma de nossas obras em folhas foi telepática. no meio de uma madrugada na pandemia, ele, com as suas folhas e eu, com as minhas, nos entendemos via mensagem de celular. gosto muito de “as flores são”, “são” como existência e, ao mesmo tempo, sanidade. o quase refrão, foi inspirado pelo ladrão do poema do issa, “a lua da montanha/ gentilmente ilumina/ o ladrão de flores”. como se o larápio dentro do poema de issa surrupiasse a flor de outro texto, um de gertrude stein (“uma rosa é uma rosa é uma rosa…”.) e por descuido deixasse o fruto do furto no ar. o “parece alucinação” foi um jeito de homenagear belchior.
deixo o texto para vocês, agora relendo-o, reparei que não somente o lírio já estava presente (a música foi composta em 2021) como a violeta também, nome da filha da luanda. ontem logo de manhã, lírio e violeta se encontraram na praça e o texto ganhou ainda outro sentido para mim.
começa o dia/ converso com a orquídea/ passa a tarde/ rio com o lírio/ a noite cai/ toco violão com a violeta/ ensaio um refrão/ parece alucinação/ mas são as flores que me mantêm são/ no apartamento em manutenção.
deixo “as flores são” para ouvir aqui .
e também o endereço para os ingressos do show na casa odette, ingressos ASA